quarta-feira, 8 de maio de 2013

"Sei que nada sei", disse o Homo sapiens sapiens.

Antes de dormir, o insone faz o que sabe melhor fazer. Pensar. Num insight, faz relações de vários âmbitos do conhecimento, recortando-o em dois crivos: O objetivo e o abstrato. Acredita ele que, as duas se complementam ao mesmo tempo que são separadas em vieses diferentes, contudo, no ato, não se divorciam. Ninguém as conseguiu, de maneira lúcida, descobrir a verdade que habita nelas. ''Contemplamos as partes'', deduz o notívago curioso.

Ele mesmo, perambula pelo eidos de sua criatividade até cruzar um verbo. Desses que encontramos na gramática e que se batizou em seu país, Portugal, com o nome de "Saber". De família tradicional, pois era a flexão da sapiência e da sabedoria, Saber era um verbo forte, cheio de significado. Semântica das boas.

Ainda com ele, o inquieto pensador devaneia o lar que cabia o verbo risonho que estava solitário. E lugar de verbo solitário é na Predicação verbal. Lá será analisado, na sua origem e princípios.

A casa da gramática, onde se encontra o departamento das Predicações verbais, é tudo muito rígido e direto. Faz parte do órgão da ciência e por isso não anda na corda bamba. É oito ou oitenta. Aliás, direto ou indireto. Ou os dois. Ou nenhum. E logo após, O Saber sai de lá trasbordante e com novidades, "Sou um verbo direto! Quem sabe, sabe de alguma coisa!"

Isso perturba o ceticismo do sonâmbulo que não se basta do conceito e busca outra saída: A filosofia.

*Antes disso, saibamos que o verbo ''saber'' é transitivo. Transita pelo universo do vocabulário e é indireto por sempre estar acompanhado do objeto direto, quando se encontram, em oração.*

O que mais alfinetou o jovem sábio foi a certeza da gramática. Sempre foi um pouco preconceituoso com as pessoas certas demais e que não expandem seus pensamentos por estarem presos na cela dos paradigmas. Estudante e pesquisador de filosofia, sempre viu a dúvida como uma vírgula e nunca um ponto final. Inclusive, creio que essa era a única certeza da sua vida...

Pois bem, ao levar o Saber pra filosofia, tudo ficou sem a nitidez da certeza. O que fez brilhar o interior dos olhos do pesquisador insone, que faz o que sabe de melhor. Pensar. E lá, o Saber foi multi-julgado,  contrariando os exames do Português. Em suma, Saber não é saber de alguma coisa, mas o seu contrário. Saber tem a liberdade de não se responsabilizar pela síntese do conteúdo. Saber inclui não saber. Posso dizer que, agora, nosso verbo risonho é intransitivo. Quem sabe sabe. Contudo, divagando em seu universo, o visceral pensador da noite grilou que isso era errôneo, se percebemos que conhecer (saber de algo) é desconhecer outro algo que saberíamos. Sua mente não para de concluir sem conclusões...

A Filosofia e sua pintura abstrata de conceitos, complementou a objetividade da língua e a noite iluminou o filósofo que dormiu quando o sol acordou.

3 comentários:

  1. O Saber é um personagem vasto e complexo. Eu, feito o Mané de Barros, digo que "meu fado é de não entender quase tudo.Sobre o nada eu tenho profundidades"...

    Siga nessa convivência instigante com o Saber, meu caro, sua insônia é de uma belezura ímpar.

    Beijo!

    ResponderExcluir
  2. Reflexões como essas, que você fez, dificilmente vem à luz do dia. É preciso, antes de tudo, ser um insone - quem sabe acender um cigarro, beber um café e deixar que seus sentimentos se “pensamifiquem“ (porquanto diria Nietzsche que nossos pensamentos são sempre sombras vagas de nossos sentimentos). Adorei como seu texto fluiu; adorei o profundo significado dele, ou seria ele tão visceral que jamais se deixaria prender a um único significado? Sem dúvida, a palavra “saber“ transcende e muito sua classificação morfológica e mesmo sua semântica.

    Um grande abraço, jovem filósofo.

    ResponderExcluir
  3. Muito obrigado pelo comentário, Fábio. Seu intento me alegra profundamente e me motiva a pensar mais ainda.

    Agradeço de coração cada palavra.


    Obrigado!

    ResponderExcluir