Eis que chega o grande dia, e nesse mesmo dia, uma chuva torrencial. Que alaga a cidade inteira. Na rua, onde ser realizaria o evento, se abre um poça enorme e a polícia ao saber o ocorrido, interdita o local. A rua interditada impossibilitava das pessoas verem o local do evento que ficava no decorrer do logradouro e isso consistiria num fiasco. Tentativas insuficientes de negociações com os policiais fazem com que o idealizador e vocalista da trupe, Fernando Anitelli, percorra os quarteirões daquele bairro, colando flyers do evento por todo lugar para que as pessoas soubessem onde ocorreria o evento.
Neste momento, eu como admirador da banda, me deleito na imagem de um dos melhores compositores do Brasil que tenha sofrido tanto em nome de um sonho, que era a sua verdade. Que doava cada gota de seus suor para que aquele projeto denso e cheio de conteúdo bom vigorasse e ecoasse pelo mundo a fio. A imagem de um palhaço ensopado de água de chuva, lutando pelo seu ideal, retrata o quão importante é esse alicerce chamado sofrimento. Grande edificador das conquistas posteriores.
O evento não vingou. Lá, a cena do palhaço que contava as poucas moedas rendidas do final do evento. Comovida com a imagem, a escritora Maíra Viana escreve um poema chamado Pena, que retrata, ao meu olhar, a figura do artista no Brasil (e por que não no mundo?), descrevendo a arte como mera mercadoria, produto comercial. Anitelli, ao ler o poema, fica maravilhado com a forma que a jovem escritora e amiga, traduz aquele impasse vivido. Preenche de acordes aquela rebelião das palavras, adiciona alguns versos seus e surge a canção, com o mesmo nome do poema.
Há semanas, assisti o DVD do O Teatro Mágico - #RecombinandoAtos, seu mais novo trabalho. A quarta música do espetáculo é Pena. Aqueles dez segundos primeiros me emocionaram profundamente e eu não sabia o por quê. Talvez por ter resgatado novamente aquela cena que me agradara tanto por ser uma grande fonte de reflexão, ou por ter sido a única música tocada nos três DVDs da banda. Isso mesmo. Nem o Anjo mais velho é reproduzida nos três. No Segundo Ato, a música que encerra o espetáculo é a própria.
Tanta gente abdicando seus sonhos sem nem mesmo ter tomado um banho de chuva que lhe alagaria o ânimo, e um poeta lá de Osasco ávido por disseminar sua arte ao mundo com sua música livre.
"Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior"
Sua versão no Entrada para raros:
Vídeo inspirador do meu escrito. Anitelli relatando aquela ocasião:
Você me contou essa história e desde então o seu pensamento poético sobre o acontecido da poesia alheia, me fez imaginar da mesma forma o palhaço ensopado insistindo na sua missão...
ResponderExcluirVocê e a Simone são os verdadeiros culpados por eu me deixar encantar um bocado mais a cada dia por esse povo pintado, dizendo tanta poesia cantada.
Beijo, poeta-tocador.
valeu por postar o "video inspirador", que é meu! :P
ResponderExcluirEu não sabia. Seja bem vindo :)
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