Hoje, ao sair da faculdade, fui ao comércio procurar algo pra comer. Sou um socialista fajuto, que se deleita nos fast-foods do mundo moderno. Lá, passei numa banca de revistas, fitei os quadrinhos à minha frente e nesse ato, um mundo de lembranças boas. Lembranças de quando eu era recém vivente e que tudo no campo dos meus olhos, ouvidos e pele, moldava o meu ser. O período mais ativo dessa construção. No mundo conceitual, a chamamos de infância.
Me veio, saber-me sobrevivente desse sistema que, desde antes de eu nascer, já não esperava grandes coisas de mim, que mais me queria como uma engrenagem dessa imensa indústria que se tornou o mundo. Mercadora das artes, dos sentires, como havia dito no texto Arte de Mim. Metaforicamente, vender emoções é poético e belo, mas e quando não vendemos a emoção, mas a execução de um trabalho que nos tira a possibilidade de ser e estar?
Questionamentos borbulham nesse caldeirão. Volto ao momento que me deixou feliz. Quando criança, passei tardes inteiras lendo revistas em quadrinhos. Lia e relia, imaginava o porvir daquelas ilustrações. Pensei: Quando somos crianças, menos afetados por esse mundo perverso, malogramos as burocracias da existência moderna e oxigenamos a criação, o pensar, o imaginar. Nossa vida é um devaneio e todos que passam por aqui, com um pouco de consciência, perguntarão: Quem sou? Pra que sou? De onde vim? Pra onde vou? Entre outras coisas....
Viver é criar, disse Fernando Pessoa.
Não sei por que, mas hoje não sou o que o capitalismo quer de mim. Por sorte, trombei com a arte numa dessas esquinas da vida e me inaugurei como gente. Em 2013, me vejo um falador de poesias, trocadilhos com um dizer profundo (eu tento), um alfabeto numerado, reinventando antigas expressões. Me sinto bem em falar o que penso, do jeito que quero e, nessa ousadia toda, tento emocionar também, porque assim vejo o mundo. Sempre como uma oportunidade de lembrar feliz, aquelas idas ao comércio pra comprar revistas na banca com o meu querido pai, revivendo isso 10 anos depois.
Anterior a isso, é bom conversar, contemplar, ter com-tato com outras pessoas, de preferência especiais. Foi o que fiz hoje. Mais um júbilo! É aliviante perceber que não somos ilhados nesse mar de mundo e que há gente que se importa com a gente. Que num planeta hostilizado clamando falsa paz, eu, humano, faço paz com os outros. Fragmentos de amor que encontro por aí. Fragmentos por serem simples, e sendo simples, são mais bonitos. Eu declAMO essa forma de gostar (vide eu-me-chamo-antônio). Perceber raridade nos pequenos gestos. O mundo é do tamanho da nossa emoção.
Agora, encerro com um aforismo poético. Porque poetas falam muito com poucas palavras. São seres de outras palavras e especiais sentires, como diria minha amiga Milene. Essa é do Fernando Anitelli:
"No fundo é simples ser feliz. Difícil é ser tão simples."
Muito bom!
ResponderExcluirÉ por isso que eu gosto tanto de ti. É por isso? É por tanto... Por que há aí uma imensidão de sentires, como diz essa tua amiga que parece saber das coisas (e é modesta que só). A propósito, ela adorou ter o nome citado aqui.
ResponderExcluir"Que num planeta hostilizado clamando falsa paz, eu, humano, faço paz com os outros"... Que massa!
Beijo, arigó poético!