terça-feira, 15 de outubro de 2013

A depressão, o carro, e o tempo.

A vida é medida no tempo. Desde que começa é um carro que não para de andar. Seu motor sãos as batidas constantes de um coração, seu combustível é a alegria, a fome, a vontade de comer. Os acontecimentos - privilégios do tempo - , são findos, com destinos, endereços. Em alguns casos, pode ser até vitalício, mas o tempo, com seu movimento irremediável, trata de assassinar o presente a cada átomo de segundo, transformando numa matéria prima chamada passado. 

Entre fugazes relevos, a vida se constrói palpável como terra. Seus planaltos, planícies, serras, depressões, as variabilidades emocionais, os acontecimentos que não morreram na cabeça (lugar onde o tempo não existe), a terra é feita de riso, choro, amor, ódio, indiferença e saudade. Se desenha um chão, a vida, assim que o carro passa. Andando, andando, fazendo passado, andando presente, avistando o futuro - a terra do nunca.

Humanos somos. Uns sentem mais, outros menos. Carros pesados, impondo força nos terrenos da existência, outros, banalizando-se o viver, com suas vidas "bicicléticas", que não fodem, nem saem de cima. O tempo. Compositor de destinos, como bem lembrou Caetano. A força bonita de saber-se limitado sem ter que aproveitar até o limite. O tempo. Na minha vida, carro forte, perambulando planaltos e depressões, achando e perdendo, no caminho, os sentidos do existir.

Hoje, passo por lugares depreciados, com vista pro sol, mas o vidro do meu carro está embaçado, não enxergando a sépia natural esplêndida do lusco-fusco. Prolifera poluentes no mundo; um CO2 sentimental. E o passado, trilha andada recentemente, me perfuram na cabeça (lugar que não existe o tempo) com suas vegetações daninhas, espinhosas. Dirijo pernóstico,sob efeito de tranquilizantes e promessas de um futuro que não há de existir.

Acho interessante o termo que a medicina dedicou ao último estágio de dor humana; a depressão. Quando a vida anda abaixo do nível do (a)mar. Totalmente pertinente e poético, lembrar da dor como um momento que passa em declives finitos, que o tempo, o carro, trata de deixar pra trás mesmo que a vontade é que o Eu motorista queira se acabar por lá.

Quando o carra passa, subindo serras, dando visão panorâmica da vida, é o futuro acontecendo. Só no futuro, amor, veremos o passado espinhoso na sua completude, e em menor tamanho. Perderemos o medo, entenderemos os porquês supérfluos e vãos, teremos a resposta do passado. Um fim de tarde, talvez, olhando o céu, o horizonte e o quanto ainda vou andar.

São 21 anos de caminhada.

Boa viagem!



Nenhum comentário:

Postar um comentário