domingo, 27 de janeiro de 2013

27 de janeiro.

Primeiro, recomendo uma trilha sonora, à meia altura, tocando enquanto você ler o escrito. Vai no youtube e põe 'Iris - Goo Goo Dolls'.

Pronto.

Acordei, relativamente, cedo. Feliz com o dia ontem. Um dia de festa, de alegria, de encontro com os amigos. De bons encontros. Um júbilo revestido de álcool, euforia, e 'estranhos conhecidos'. Eu tinha sido, naquele momento, o resultado de um dia feliz. Ávido pra viver aquilo de novo. Até que, ainda pela manhã, ao ligar o computador, logo leio o que sempre me assusta quando vejo em primeira ato. Palavras como 'Tragédia', 'morte', 'tristeza', 'último'. Último o quê? Morte de quem? Que tragédia? Que tristeza?

Que tragédia! Que tristeza!

Um incêndio numa boate mata, pelo menos, 233 jovens. Na maioria estudantes. Estudantes de pedagogia, medicina veterinária, agronomia e uns cursos técnicos.

Num primeiro momento, a tristeza por serem jovens universitários. O segundo, a indignação por mais uma tragédia advinda da negligência, do despreparo, do desrespeito com a vida humana. Que é dom. Que vale muito. Que, no mínimo, vale mais que o preço de uma comanda numa boate. Que vale mais que a boate.

"A maioria morta sem nenhum ferimento. Morreram por não acharem uma saída. Asfixiadas."

E o dia foi continuando. Uma avalanche de informações vindas a cada segundo. Natureza duvidosa. Polêmica. Fatos intrigantes. Outros entristecedores. Manifestações regionalistas. Contraditório, mas o coração que, sempre teve orgulho de ser de um lugar, tinha saído pra passear em um outro, e, lá, um vazio. Tanto vazio num lugar cheio de luto. Xenofobia em ação das causas pobres. Ah, e, pra não esquecer, as Piadas. Piadas? Sim, piadas ou, pelo menos, tentativa de fazer graça num domingo depreciado. Mas é como diria o saudoso Anysio: "Só faz humor quem leva a vida a sério."

Não contive, nem conterei a angustia, luto, tristeza que sinto agora. Elas me humanizam. Sinto-me melhor assim. Eu desejo força, fé (aos que a possuem) e que minha dor seja uma gota de conforto ao oceano de suas desconsolações. Meus irmãos humanos. Militantes da educação. Jovens da minha geração.

Me comovi demais com as histórias que soube. Da menina que morreu e deixou um celular com mais de 100 chamadas não atendidas da mãe. Do rapaz que se despediu da namorada com uma SMS dizendo 'Eu te amo'. Da sala que perdeu a maioria de seus alunos. Do jovem que perdeu os 5 melhores amigos e, que só não esteve lá porque viajou com o pai à Santa Catarina. Do sanfoneiro da banda que, também, faleceu. Este último, que carregava o mesmo ofício que o meu. O de músico. Divorciou-se do futuro musicando a alegria das pessoas.

Chocado com a notícia, fui pro quarto. Olhos d'agua, peguei o violão disposto a tocar qualquer coisa que me viesse à cabeça. Veio a tal da Iris. Música tema de um filme conhecido. Acorde melancólico. Com tez grave. Um G#m7/9. Nada mais sugestivo, pois...

Hoje, Santa Maria é a Cidade dos Anjos.





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