quinta-feira, 4 de abril de 2013

Victória

E lá estava eu, pelo nascer do sol de 2012, com planos futuros e traumas passados, um enredo de incertezas e angústias, mas, também, com a esperança pungente de boas novas.

Hoje o texto gira em torno de pequenos fatos da  melhor novidade que surgiu na minha vida, até hoje. 

No meio da semana, pela manhã-quase-tarde, eu e minhas duas mulheres. Uma clínica, uma recepcionista e um médico. Sensação pra vida toda.

Não sei por que, mas o ambiente me pareceu agradável. Cheio de avidez e esperança. O sorriso brotava e não tive a sensação de ser estranho, pois todos ali partilhavam sua alegria numa intensidade que me extasiou. Todavia, o momento não era só de alegria e, como havia dito no início, tudo ali era um misto de angústia e esperança. A ultrassonografia de um bebê que pudesse não nascer, de um mãe que pudesse sentir complicações após o parto, com risco de óbito. A mãe era minha irmã. Minha mãe era uma vó preocupada, mas eufórica. O médico era frio e cauteloso em seus gestos. Eu só olhava...

Minha irmã, a grávida da história, sofria de um problema de saúde, no útero. O tal do mioma uterino. Falarei pouco sobre pelo fato de não entender nada do mesmo. O que posso te dizer é que minha querida mamãe/irmã estava com uma barriga que abrigava três bebês mesmo estando grávida de um. O parto não era normal (em qualquer dos sentidos) e meus dias, naqueles dias, também não. Hoje relembro com saudade, mas vivi com dor aqueles últimos meses de gestação, dividindo quarto com a futura mamãe. Temendo não dividir mais nenhum momento com ela depois...

A solidariedade dos bons amigos, as palavras de amor e carinho me fizeram ver o amor de um jeito diferente. Sem pressa, mas com apreço. Tudo que ouvi e vi em 2012 me inaugurou. Fui escrito em Caps Lock: "Nesse nosso desbravar, emanemo-nos amor." (Da entrega, O Teatro Mágico). E vesti a poesia daqueles dias. Uma delas, está aqui, subtendida nesse texto.

Dentro do problemas de família, recordei-me de Lispector em Laços de família, onde a admirável autora relatava o cerne de uma família "normal". Com suas mazelas e medos, traumas e perdas, singularidades e pluralidades, diferente da novela da Globo com suas salas-de-estar aconchegantes, e cafés-da-manhã exuberantes. Clarice foi um pouco mais, e como dizia Hermann Hesse, "Ser é ousar ser". Clarice Lispector foi e é. Até hoje.

Joguei pensamentos soltos neste escrito. O fato é, mesmo com tanto problema,  minha sobrinha nasceu, minha irmã sobreviveu e a vida seguiu. Fui e sou melhor do que antes, e hoje, exatamente hoje, se completa um ano que esse "pedacinho de gente" deu início à sua parte em nossa árvore genealógica. Com saúde e quatro dentinhos que faz questão de mostrar num sorriso largo, igual ao do tio. Coruja e babão. Junto tudo que escrevi e transformo numa só palavra:



Obrigado.


2 comentários:

  1. Coisa mais linda, Ítalo. Esse pedacinho de gente, lindo de viver e fazer viver, veio aqui com sua mãe no dia da solicitação do histórico. Essa magia é tão grande que as palavras, ainda que lindas, não alcançam a dimensão.

    "Fui e sou melhor do que antes"... Que massa!

    Beije-a por mim,titio.

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  2. "Essa magia é tão grande que as palavras, ainda que lindas, não alcançam a dimensão."

    É tipo isso.

    Beijo dado. Obrigado, Milene.

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