sexta-feira, 17 de maio de 2013

Cadernos e árvores.

Feito um apaixonado, escrevo coisas que me descrevem. Coisas que me causam paixão, tesão, amor, humor, alegria etc. Feito um escrevedor, escrevo. Digito num computador, desleixos. Uma síncope diária que cumpre a missão de me distanciar do mundo dos outros e aproximar cada vez mais o mundo dos eus. Sou vários em um só, a cada dia, a cada tempo. Meu interior é um abismo. Não arrisco de ficar por muito tempo, apesar de ser prazeroso.

Entre esses devaneios, me surge a folha. Antiga amiga, mas que me afastei um pouco, com o desenrolar do tempo. Refiro à folha de papel, sendo que também me afastei das outras folhas. As verdes, por exemplo. Ambas me fizeram bem, quando apareceram, mas fico na negociação entra buscar a felicidade e ser feliz e, por isso, pensei que não precisasse delas. Folhas brancas e verdes, de cadernos, livros, eucaliptos e pinus. Todos os instrumentais para a propagação da boa nova. Ideias que mudaram a rota. Poemas que me visitaram, reformando antigas certezas. 

Com uma única árvore, fabricamos 128 cadernos de 90 folhas. Teorias, surtos imaginários, músicas, peças de teatro, rabiscos, desenhos, cálculos matemáticos, entre outrem, ocultas num espaço em branco. A palidez do papel pautado é a nascente do rio dos criadores. Talvez isso mude para o word ou a caixinha do Blog, na qual me disponho agora, mas a  luz da brancura ainda é o abrigo da criatividade.

Curiosamente, a folha não me é necessária agora, ao encontro com a palavras desse texto. Mas, quantas palavras precisaram se encontrar, num papel e numa teoria, para este fato existir? Talvez tudo se resuma a poesia. Encontrar palavras e inaugurá-las é dom que muda o mundo. Da mente ao papel, uma linha tênue. Meu texto é uma das infindáveis provas que, no nada, há um tudo imenso e subentendido. 

"Das diferenças entre o caderno e a árvore, a mãe das folhas verdes geram frutos dos galhos, nos cadernos, saem das folhas." (Pensamento ocorrido anteontem às 5 da manhã.)

Boa noite.


Um comentário:

  1. Por que você não consegue filosofar sem ser poeta, né? Assim como a sua poesia está sempre de olho na filosofia. Então dá esse resultado, que nunca é da boca pra fora. Que sempre faz pensar... e gostar.

    Beijo.

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